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quinta-feira, 15 de março de 2018

"A situação em Uganda é extremamente alarmante"

"A situação em Uganda é extremamente alarmante"
Foto: MSF
A violência na província de Ituri, RDC, força milhares de pessoas a fugirem para Uganda, onde um surto de cólera ameaça os refugiados
"A situação em Uganda é extremamente alarmante"

Uganda
Em dezembro, a violência atingiu a província de Ituri, no nordeste da República Democrática do Congo (RDC) e se intensificou em fevereiro, quando os combates se expandiram para o entorno da área de Djugu. Casas foram queimadas, pessoas foram mortas e dezenas de milhares fugiram em busca de segurança. Alguns dos deslocados foram em direção ao sul até Bunia, enquanto outros fugiram para o norte até Mahagi. Muitos, no entanto, permanecem em áreas ainda inacessíveis às organizações humanitárias. Nas últimas duas semanas, mais de 40 mil congoleses pagaram para atravessar o Lago Albert e, quando chegaram em Uganda, encontraram péssimas condições, com instalações locais sobrecarregadas. Em 23 de fevereiro, as autoridades de saúde em Uganda confirmaram um surto de cólera que afeta a comunidade no distrito de Hoima, onde os recém-chegados estão abrigados. Médicos Sem Fronteiras (MSF) está trabalhando em ambas as margens do lago, oferecendo assistência médica aos necessitados.

O que está acontecendo na província de Ituri (RDC)

Em meados de fevereiro, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) estimou que cerca de 20 mil pessoas se abrigavam na cidade de Bunia. A maioria está vivendo com amigos e familiares, enquanto cerca de 2 mil estão reunidos em um local temporário no hospital regional. MSF está apoiando os cuidados básicos de saúde em três centros de saúde na cidade de Bunia, Bigo, Kindia e Lembabo, e está ajudando a encaminhar os casos graves a dois hospitais próximos. Nas últimas duas semanas, as equipes de MSF receberam 2.111 pacientes ambulatoriais. Destes, 783 eram crianças com menos de 5 anos de idade e 349 mulheres grávidas. As principais doenças dos pacientes que chegam são malária, infecções respiratórias e diarreia. As equipes também estão oferecendo consultas de saúde mental, pois aqueles que chegam em Bunia estão traumatizados pela violência que testemunharam ou foram vítimas. Há crianças desacompanhadas e pessoas que perderam tudo durante o deslocamento.

MSF realizou serviços de tratamento de água e saneamento no local do hospital, incluindo a instalação de um sistema de abastecimento de água e a construção de 20 latrinas e 10 chuveiros. As equipes distribuíram 1.200 kits de itens de primeira necessidade, como cobertores e sabão, e continuam a apoiar a distribuição de alimentos como farinha, sal e arroz para os deslocados.

"A maioria das pessoas deslocadas em Ituri está vivendo com famílias de acolhida, mas algumas delas se abrigam em escolas, igrejas ou pequenos acampamentos informais. Em Bunia, há muitas mulheres e crianças que dependem totalmente de ajuda externa para suprir suas necessidades mais básicas, como comida e água. Sabemos que há muitas pessoas deslocadas nas áreas que ainda não podemos alcançar devido à insegurança, e todos os esforços precisam ser feitos para trazer a assistência que eles precisam desesperadamente", diz Florent Uzzeni, coordenador de emergências na RDC.



Uma equipe também está presente em Mahagi, mais ao norte, onde missões de avaliação estão em andamento. MSF vem fornecendo apoio remoto às áreas mais difíceis de alcançar, como Drodro, por meio de doações de medicamentos, equipamentos e kits para tratar os feridos. Como muito pouca ajuda consegue chegar até essas pessoas, muitas estão gradualmente indo para o norte em busca de alimentos, cuidados médicos e abrigo.

Atravessando o lago

Um efeito decisivo dessa violência é que, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), desde o início de janeiro, mais de 42 mil refugiados congoleses chegaram às margens do lado ugandense para escapar dos combates, usando barcos de pesca e canoas superlotados e rústicos para cruzar o lago Albert. A jornada para chegar a Uganda pode levar entre seis e 10 horas, e houve relatos de refugiados que se afogaram em acidentes de barcos. "Recém-chegados nos contaram sobre ataques de noite e alguns apresentaram cortes profundos e feridas. Muitos chegam traumatizados e esgotados, trazendo crianças doentes. Aqueles que usavam canoas pequenas às vezes tiveram que andar por quase três dias até encontrar segurança aqui", explica Ahmad Mahat, coordenador de emergências em Uganda.

O que está acontecendo no distrito de Hoima (Uganda)

Os refugiados desembarcam em Sebarogo, uma pequena vila de pescadores no distrito de Hoima, onde há um local para desembarque. O local logo ficou acima de sua capacidade. Em meados de fevereiro, até 3 mil pessoas por dia começaram a chegar durante o auge do influxo atual de refugiados. Agora, os números diminuíram, em parte devido às condições climáticas e aos preços proibitivos, impulsionados pelas centenas de chegadas diárias de novos refugiados. Os recém-chegados deixam rapidamente Sebarogo para o centro de acolhimento em Kagoma, que é administrado por autoridades e parceiros das Nações Unidas (ONU). Eles esperam por registro e assistência humanitária antes de se mudar para um campo de refugiados, principalmente o acampamento de Kyangwali (Maratatu) e outros campos no oeste do país. No entanto, o transporte de ônibus e o sistema de registro ficaram por vezes tão sobrecarregados em fevereiro que os refugiados permaneceram no local onde chegaram por vários dias, até uma semana, com pouca assistência, sem latrinas e sem acesso a água, exceto a do lago. Alguns se mudaram para a cidade de Sebarogo para se juntar a seus familiares e famílias de acolhimento.

O centro de acolhimento de Kagoma e o acampamento de Marutatu (parte de Kyangwali) atualmente não podem lidar com o afluxo de refugiados. Os recém-chegados já se tornaram vulneráveis pela trajetória e a violência vivenciada em Ituri. Eles acabaram dormindo ao ar livre, expostos às chuvas que começaram, com acesso inadequado a água e comida, em condições dramáticas de higiene e saneamento. As autoridades de saúde confirmaram recentemente um surto de cólera na região, com pelo menos mil casos graves que requerem hospitalização, incluindo mais de 30 mortes desde meados de fevereiro.

 "A situação em Uganda é extremamente alarmante, com uma tendência crescente de casos de cólera e alta taxa de mortalidade. Além dos centros dedicados ao tratamento de cólera, estamos ampliando nossa resposta o mais rápido possível, estabelecendo uma estação de tratamento de água no local de chegada em Sebagoro para aumentar o acesso à água limpa para os refugiados e para as comunidades que vivem ao longo das margens. Foram instalados pontos de reidratação, vigilância, transporte de água e estamos construindo latrinas adicionais. No entanto, para controlar esse surto mortal e proteger os que estão correndo risco, é realmente urgente realizar uma campanha de vacinação contra cólera nos próximos dias. Isso deve ser parte da resposta de rotina a tais epidemias. Depois de discutir com parceiros globais, um estoque de vacinas foi disponibilizado para esta campanha de emergência e MSF está pronta para ajudar o Ministério da Saúde assim que receber o aval", diz Mahat.

Em Sebarogo, as equipes de MSF instalaram um Centro de Tratamento de Cólera com 50 camas (CTC) no centro de saúde da cidade, também apoiado com recursos e suprimentos adicionais. Está sendo montado um posto de saúde móvel no local de chegada que permite o encaminhamento ao centro de saúde os casos mais urgentes. MSF também abriu um CTC com 50 camas no centro de saúde de Kasonga, que fica perto do centro de recepção. Os pacientes também são encaminhados por outras organizações ou agentes que atuam no assentamento de Maratatu, onde atualmente vivem 23 mil pessoas.

No centro de acolhimento de Kagoma, 5.263 crianças foram vacinadas contra poliomielite e sarampo por equipes de MSF e 2.160 mulheres em idade fértil foram vacinadas contra tétano. MSF abriu um ambulatório 24 horas, onde mais de 2 mil pacientes foram tratados desde meados de fevereiro, a maioria sofrendo com diarreia, cólera, malária e infecções respiratórias. Os cuidados pré-natais e a assistência às vítimas de violência sexual também são fornecidos na clínica.

A situação na província de Ituri permanece imprevisível e uma nova onda de violência pode causar um novo fluxo de pessoas para Uganda. Atualmente, a insegurança está impedindo que muitos dos congoleses deslocados permaneçam em seu país e tenham acesso à assistência que salva vidas. MSF está trabalhando para encontrá-los. Em Uganda, um surto mortal de cólera e uma provisão inadequada de ajuda humanitária mostram que uma grande emergência está se desdobrando nas margens do lago Albert.

Por MSF

De barco e de carro, MSF leva atendimento médico a locais remotos no Sudão do Sul

De barco e de carro, MSF leva atendimento médico a locais remotos no Sudão do Sul
Foto: Frederic Noy
Atravessando rios e longas distâncias, as clínicas móveis de MSF atendem moradores locais e deslocados internos em Akobo e vilarejos próximos
De barco e de carro, MSF leva atendimento médico a locais remotos no Sudão do Sul

Sudão do Sul
São 8 horas da manhã e o conglomerado de MSF em Akobo, Sudão do Sul, fervilha com tantas atividades. Em frente a barraca de logística, as equipes levam cuidadosamente mesas, cadeiras, tapetes, caixas sépticas, medicamentos e outros materiais para um veículo. Próximo deles, o coordenador do projeto bebe rapidamente seu café e murmura em um rádio empoeirado. Sem ainda abotoar seus coletes salva-vidas, uma equipe de técnicos em medicina, enfermeiras e profissionais de saúde da comunidade conversam sobre a estratégia do dia.

Quando o sol no Sudão do Sul ultrapassa as camadas de árvores em Akobo, o conglomerado já está calmo e a equipe móvel de MSF navega pelo rio Pibor. O destino deles? Uma aldeia remota sem outros serviços de saúde.

Desde dezembro de 2013, milhões de pessoas se deslocaram e continuam se deslocando como consequência do atual conflito no Sudão do Sul. Em Akobo, as pessoas que fogem das zonas de conflito próximas chegam quase que diariamente. Alguns de nossos pacientes nos contam como foram suas jornadas caminhando por vários dias e apenas durante a noite, quando o conflito cessa temporariamente.

Mulheres e crianças são grande parte da comunidade deslocada. Enquanto algumas conseguem se instalar com familiares ou amigos, outras não têm outra opção senão ficar na escola primária, onde há pouco acesso a comida e água. Muitas estão mentalmente traumatizadas depois de verem seus maridos, pais e irmãos mortos no meio de tanta insegurança.

Devido ao conflito e ao deslocamento, as necessidades médicas e humanitárias na região são enormes. É nesse contexto que MSF lançou o seu mais recente projeto no Sudão do Sul. Respondendo às necessidades da comunidade local e da população deslocada, MSF está agora operando com clínicas móveis que se deslocam em barcos e veículos para fornecer cuidados básicos de saúde nos locais que mais necessitam.



"Akobo e os vilarejos próximos são quase inteiramente excluídos do acesso a cuidados de saúde seguros e de qualidade", diz Raphael Veicht, coordenador de MSF no Sudão do Sul. "Como as instalações médicas na área foram abandonadas ou reutilizadas para outros fins, a população já altamente vulnerável não tem onde buscar tratamento básico", acrescenta.

A equipe médica que saiu de manhã cedo chegou a Kier depois de uma hora de viagem de barco. Como de costume, eles trazem seus equipamentos e os colocam sob a sombra das poucas árvores. Em poucos minutos, o lugar é transformado em uma clínica de saúde básica com uma área de espera e barracas improvisadas usadas como salas para realizar consultas. Os pacientes chegam, sentam silenciosamente nos tapetes e se preparam para ter seus sinais vitais checados, enquanto os assistentes de enfermagem preparam medicamentos prescritos. Após apenas duas horas e meia, cerca de 30 pacientes são atendidos.



"Nós geralmente atendemos entre 50 e 60 pacientes por dia", diz Tut Kuang Ler, técnico em medicina de MSF. "Hoje, seis pacientes foram diagnosticados com malária, cinco crianças pequenas com diarreia e atendemos um caso de infecção por fungos."

Agora, com clínicas móveis atendendo em sete locais diferentes nos municípios de Akobo e Ulang, as equipes médicas de MSF tratam mais de 2 mil pacientes por mês. Enquanto isso, MSF começou a construir uma estrutura mais permanente em Kier: um centro de saúde primária que poderá oferecer cuidados mais avançados. Mas, por enquanto, as equipes permanecem móveis.

Às 2:30 da tarde, o último dos pacientes foi atendido. Tut Kuang Ler faz uma pausa e checa ao redor, procurando por pacientes atrasados. Nenhum. "Hora de empacotar tudo e voltar para Akobo", diz ele.

Por MSF

México: redes sociais facilitam o acesso de vítimas de violência sexual a serviços médicos

Redes sociais facilitam o acesso de vítimas de violência sexual a serviços médicos e psicológicos em Acapulco
Foto: Christopher Rogel Blanquet/MSF
Em 2017, a campanha SIVIS de MSF tratou 190 sobreviventes de violência sexual na região
Redes sociais facilitam o acesso de vítimas de violência sexual a serviços médicos e psicológicos em Acapulco

México
Saúde mental
Em Acapulco, México, Médicos Sem Fronteiras (MSF) lançou a campanha SIVIS (Serviço Médico Integral contra a Violência Sexual) para promover cuidados com sobreviventes de violência sexual em Acapulco. "SIVIS: é possível curar" é uma campanha realizada no Facebook e em outras mídias sociais, que encoraja as vítimas a procurarem ajuda, a fim de receber tratamento médico adequado. A campanha utilizou pela primeira vez as redes sociais para facilitar o acesso aos serviços, confidenciais e gratuitos, na cidade.

Chame no WhatsApp (63) 9 8111-5110
A campanha, lançada em novembro com a colaboração do Ministério da Saúde, consiste em mensagens publicitárias tradicionais exibidas em murais e cartazes nos pontos estratégicos da cidade, bem como nos ônibus e outdoors. Ela inclui anúncios de rádio, mensagens de texto via celular e plataformas de redes sociais como o Facebook – e, claro, no site para aumentar o quanto for possível o acesso das pessoas afetadas à assistência médica e psicológica. O site e o Facebook são www.sivis.mx e https://www.facebook.com/sivis.mx/.

"O objetivo desta campanha é que as vítimas de agressões sexuais saibam que, sim, a cura é possível e este é um serviço gratuito e confidencial que previne doenças e ajuda no alívio físico e emocional. Vocês não estão sozinhos, a cura é possível e nós estamos aqui para ajudar", diz Noelia Monge, coordenadora do projeto de MSF em Acapulco.

Um dos grupos que mais preocupa a organização médica são os mais jovens e, por isso, é dada a ênfase no uso de redes sociais mais populares como o Facebook.  "A informação é indispensável. Especialmente jovens, meninos e meninas que foram abusados sexualmente sentem muitas vezes desconfiança nos adultos. Nas instalações preparadas por MSF, eles aprendem a expressar seus sentimentos, compartilhar seus medos e dúvidas, e desenvolver a capacidade de pedir ajuda", afirma o coordenador.

Desde 2016, juntamente com o Ministério da Saúde, MSF fornece suporte e assistência médica e psicológica às vítimas de violência sexual em duas unidades hospitalares em Acapulco. Em 2017, através das autoridades municipais, as equipes de MSF trataram 190 casos de agressão sexual. Desses, 52% eram menores.

Paz*, uma jovem de 14 anos que vive com seu pai na cidade e engravidou depois de um estupro, largou a escola e se automutilava. Pouco depois, ela buscou os serviços de MSF: "Me ajudaram com a gravidez. Eles estavam comigo a todo momento e isso foi um grande apoio, tanto para mim quanto para o meu pai que não sabia o que fazer durante o parto. Eu também voltei a estudar. Sinto-me diferente e, ainda que haja pessoas que me deixam desconfortável, as que me ajudam estão em maior número. Estou bem. Estou feliz porque vou continuar estudando e consegui uma bolsa de estudos."

Além da atenção direta e tratamento integral (apoio médico, psicológico e social) para as vítimas, MSF fornece treinamento, palestras e workshops que visam sensibilizar os profissionais de saúde e o público em geral sobre os riscos físicos e psicológicos envolvidos em não receber ajuda imediata. Em muitos casos, esses pacientes são estigmatizados ou enfrentam situações de revitimização quando escolhem relatar ou ir aos centros de saúde. A campanha SIVIS visa diminuir a falta de conhecimento sobre os serviços disponíveis em Acapulco para enfrentar os efeitos da violência sexual.
"A colaboração de MSF tem reforçado os cuidados de saúde em casos de violência sexual, já que muitas vezes as vítimas não queriam ser cuidadas pela equipe médica de hospitais que negaram ajuda por medo ou desconhecimento do protocolo de atenção", acrescenta a psicóloga Mirta Abarca Olivero, responsável pelo programa contra violência em Acapulco da Secretaria de Saúde do estado de Guerrero. Ela aponta que "a campanha SIVIS é muito importante para divulgar que existe um lugar onde a população pode ir onde a assistência médica e psicológica é garantida."

"A violência sexual deve ser considerada uma emergência médica", enfatiza Noelia Monge. "A ajuda dentro das primeiras 72 horas é crucial para uma vítima de estupro. Pode-se reduzir o risco de infecção por HIV e prevenir outras infecções sexualmente transmissíveis, tétano, hepatite B e C e gravidez indesejada nos três primeiros dias. Por isso, quanto mais mídias usarmos, melhor será a luta contra essa emergência em Acapulco, que infelizmente, é corriqueira."

*Nome alterado

Em Acapulco, MSF ofereceu 2.304 consultas psicológicas para 1.224 pessoas, 645 sessões em grupo e 579 individuais em 2017. Foram formados 84 grupos comunitários e realizadas 54 atividades como oficinas de psicoeducação, gestão de emoções, sobre violência sexual e sobre o impacto da violência nas comunidades. Mais de 10 mil pessoas participaram dessas atividades.

Por MSF

Leste da Ucrânia: as mulheres deixadas para trás na zona de conflito

Ucrânia: as mulheres deixadas para trás na zona de conflito
Foto: MSF
Mais velhas e com doenças crônicas, as mulheres que permaneceram nas áreas de conflito sofrem de trauma e depressão

Ucrânia: as mulheres deixadas para trás na zona de conflito

Ucrânia
Saúde mental
A saúde das mulheres deixadas para trás na região de Oblast de Donetsk, onde o conflito eclodiu em 2014, está sendo desproporcionalmente afetada após quatro anos de conflito e o colapso do sistema de saúde.

A maioria dos pacientes de MSF no leste da Ucrânia são mulheres com mais de 50 anos, que sofrem de doenças crônicas como doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes. Em 2017, cerca de 75% dos pacientes de MSF que buscaram acesso a cuidados de saúde primária eram do sexo feminino.

Ao longo dos últimos três anos, 82% de todas as pacientes do sexo feminino tinham mais de 50 anos de idade e doenças crônicas.

A maioria são viúvas cujas famílias estão deslocadas em ambos os lados da frente de batalha ou mulheres que se mudaram para encontrar emprego e áreas mais seguras para seus filhos. De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2015, a expectativa de vida dos homens na Ucrânia era de 66 anos e das mulheres de 76 anos.

Trauma psicológico

O conflito na região de Donbas, no leste da Ucrânia, começou em 2014, quando choques entre forças pró e anti-governo levaram à criação de duas repúblicas autoproclamadas.

MSF começou a fornecer cuidados médicos emergenciais em ambos os lados do conflito em 2014, até que a organização teve seu acesso negado às áreas controladas pelo governo ucraniano em setembro e outubro de 2015. As necessidades de saúde permanecem altas, com uma grave falta de profissionais de saúde na região e a dissolução da infraestrutura, somados à alta inflação.

As equipes das clínicas móveis de MSF, composta por médicos, enfermeiros e psicólogos, se deslocam até 28 locais na região do sul de Donetsk, áreas controladas pelo governo, visitando aldeias na frente de batalha do conflito e pessoas internamente deslocadas nas cidades e apoiando instalações médicas existentes.



Após anos vivendo em uma zona de conflito, as necessidades de apoio psicológico da população local são altas. Psicólogos de MSF encontram pacientes com ansiedade aguda e depressão.

Desde 2015, as mulheres representam 81% dos pacientes que buscam apoio de psicólogos de MSF, que por sua vez realizam sessões de aconselhamento individual, grupos de apoio, treinamento para professores e pessoal médico local e sessões de conscientização sobre saúde mental. Em 2017, esse número cresceu para 85%.

"O conflito afetou a todos"

Em Avdiivka, Larisa Ivanovna participou de sessões de apoio psicológico com o psicólogo de MSF, Artem Tarasov, depois de presenciar a queda de bombas perto de sua casa e apoiar os vizinhos feridos.

Os encontros do grupo ocorrem dentro de um jardim de infância abandonado, onde os brinquedos e os colchões das crianças ficam atrás das portas fechadas e dos armários vazios. É aqui que Artem realiza visitas duas vezes por semana, realizando sessões em grupo, incentivando aqueles que foram deixados para trás a interagir e compartilhar suas experiências e oferece aconselhamento individual.

Larisa, que vive com seu gato e seu cachorro, deixou Avdiivka depois que, em 2014, um míssil atingiu o segundo andar de seu edifício, matando um homem. Mas essa mulher de 62 anos, como muitos dos pacientes de MSF, decidiu retornar ao local, já que, para ela, lá é sua casa.

Apesar da bondade de seus vizinhos, que lhe forneceram comida, as memórias angustiantes de viver com bombardeios pesados permanecem, já que somente seu prédio foi atingido cinco vezes.

"Lembro-me de deixar a casa do homem que eu estava cuidando e os bombardeios começaram", disse Larisa. "Eu congelei e não consegui pensar no que fazer, para onde correr. Eu tive sorte de ter meus vizinhos comigo, que seguraram minha mão e corremos juntos. Nós corremos por um tempo e depois caímos no chão. Quando voltamos, vimos uma cratera no lugar onde estávamos de pé. Tantas coisas aconteceram. Moro em um prédio de nove andares, no centro da cidade. Ele foi atingido pelos bombardeios cinco vezes”, acrescentou.

"Toda vez que as bombas estão caindo, pego minha mochila, que está sempre pronta, e saio para a escada onde as pessoas se reúnem. Não posso ficar sozinha nesses momentos. É mais fácil quando você fala com alguém, se afasta da situação e se sente melhor."

Larisa cuidou de um vizinho que foi ferido durante o bombardeio, depois que um radiador explodiu e jogou água fervente nele. Ele faleceu recentemente.

"O apoio mental é importante para todos, já que o conflito traumatizou e afetou a todos", disse ela.

Histórico de MSF na Ucrânia

- De 1999 a 2005, MSF atuava em Odessa, Mykolaiv e Simferopol, prestando atendimento e tratamento às pessoas que vivem com HIV/Aids, bem como ajudando na prevenção da transmissão materno-infantil da doença.
- Em 2011, MSF iniciou um projeto em Donetsk para a prevenção e tratamento de tuberculose resistente a medicamentos (TB-DR) em centros de detenção e prisões na região de Donetsk. MSF assinou recentemente um memorando de entendimentos com o Ministério da Saúde da Ucrânia e o Departamento de Saúde da Administração Estatal do Estado de Zhytomyr para apoiar o tratamento de pacientes com TB-DR na região de Zhytomyr.
- Em maio de 2014, MSF começou a prestar assistência médica e humanitária às pessoas diretamente afetadas pelo conflito no leste da Ucrânia.
- Atividades de MSF nas Repúblicas Populares Auto-proclamadas de Donetsk e Lugansk: de maio de 2014 a outubro de 2015, MSF prestou assistência médica e humanitária em mais de 90 locais nas áreas setentrionais das regiões de Lugansk e Donetsk, tratando pacientes que sofrem de doenças crônicas, tuberculose e problemas de saúde mental. No final de setembro de 2015, a permissão de MSF para continuar trabalhando em Lugansk foi recusada pelas autoridades da auto-proclamada República Popular da Lugansk e, em outubro de 2015, MSF foi forçada a encerrar suas atividades em Donetsk.
- Em novembro de 2017, MSF começou a fornecer tratamento e diagnóstico de hepatite C na região de Mykolaiv para pessoas co-infectadas com HIV e hepatite C. O projeto incluirá tratamento para aqueles que realizam terapia de substituição de opioides e profissionais de saúde infectados com o vírus.

Por MSF

Greenpeace